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Quantas vezes na última semana você acessou o aplicativo do seu banco através de seu smartphone para realizar uma transferência ou pagamento? E quantas vezes você acessou seu banco usando seu computador? Quantas visitas à agência você fez este mês?
O processo de transformação digital é uma realidade no mercado brasileiro, e isso não se resume ao último ano. Segundo a Febraban, o mobile banking, que em 2011 se tornava um meio para transações com cerca de 100 milhões de acessos no ano, teve em 2016 em torno de 21 bilhões de acessos. Entre os anos de 2015 e 2016, a quantidade de transações financeiras realizadas via mobile banking praticamente dobrou, saindo de 11,2 para 21,9 bilhões de movimentações, respectivamente. Estes números justificam um aumento significativo na confiança e aderência de clientes à utilização de meios digitais para realizar transações financeiras.
Cada vez mais o universo particular de cada indivíduo se expande com base em novos modelos de negócio ligados à tecnologia. E isso não está restrito aos bancos: a utilização de apps que diminuem nosso tempo no trânsito (e por consequência, o stress que isso causa), o acesso serviços de streaming (que são capazes de captar nossas preferências pelo tipo de conteúdo que consumimos) ou a busca por um serviço de transporte (que vai até você bastando apenas alguns cliques na tela de seu smartphone) são exemplos factíveis de como a tecnologia está mudando padrões de comportamento e diminuindo atritos que alguns anos atrás eram difíceis de transpor.
Neste sentido, o futuro do mercado bancário se direciona para o desenvolvimento de novas tecnologias e cada vez mais Fintechs surgem com modelos de negócios que utilizam como base de suas soluções a quebra de serviços bancários, que resultam em menos pontos de atrito na relação cliente - banco. O acesso a dados através de API’s tem se tornado cada vez mais necessário para a evolução dos produtos financeiros e dos canais utilizados pelos clientes para acessar estes produtos.
O conceito de Open Banking se estabelece justamente no compartilhamento de informações através destas API’s (padrões de programação que permitem a interação e acesso à um software ou plataforma). Com estes dados, Fintechs estabelecem modelos de negócios que facilitam (em alguns casos barateiam) a vida dos usuários finais. Os conceitos de inovação aberta e disrupção de serviços nunca estiveram tão em evidência.
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IMPACTOS
Guiadas pelo objetivo de prover uma experiência de interação superior para os clientes, as Fintechs atuam no mundo todo, inclusive no Brasil. Porém, existem barreiras a serem derrubadas para que este novo cenário seja consolidado, e isso implica em questões regulatórias e governamentais.
Na Europa, por exemplo, a regulamentação para este novo mercado foi instituída em janeiro de 2018. Na prática, esta regulamentação (PSD2 - second Payments Services Directive) trata da abertura de dados bancários de forma padronizada e segura para que as Fintechs possam ter acesso e viabilizar suas soluções. Em outras palavras, isso significa ter acesso tanto a dados simples como localização de agências quanto a detalhes específicos de produtos financeiros.
Os impactos gerados por esta iniciativa são sentidos tanto pelos grandes bancos, que detém informações preciosas (em especial sobre as transações realizadas por seus clientes) quanto pelos clientes que cada vez mais demandam informações claras e objetivas sobre suas finanças. Partindo do princípio de que a experiência do cliente e o próprio cliente devem ser o centro das atenções, cada vez mais as Fintechs ocupam papel fundamental para o desenvolvimento de soluções alinhado com a nova realidade do mercado através do acesso às API’s dos bancos.
Com isso, o surgimento de novas regulamentações geradas pelos órgãos responsáveis (Banco Central, por exemplo) é de grande importância para que esta nova realidade seja positiva tanto para clientes quanto para bancos. Entretanto, ainda que a adesão a novos canais e tecnologias seja uma realidade, este novo momento demanda dos bancos uma mudança no que se refere a serviços financeiros: o poder dos dados antes concentrado em plataformas bancárias agora estará disponível a terceiros através de API’s “públicas”, e o cliente é quem detém o poder sobre os dados que trafegam nos softwares destas instituições financeiras.
Para as Fintechs, as possibilidades são diversas não somente para soluções para o mercado de meios de pagamento, mas também soluções conectadas aos mais variados produtos financeiros como investimentos, transferências internacionais, crédito, seguros e muito mais. A vantagem das Fintechs está no foco direcionado para um serviço financeiro específico mirando uma experiência mais interessante e em geral menos burocrática para o cliente, o que aumenta o engajamento. E estas soluções acabam por se estender também ao público desbancarizado, gerando grandes oportunidades para ganho de share.
CERTO... MAS E O BRASIL COM ISSO?
Historicamente, todo mercado que se depara com alguma mudança tecnológica tende a ser resistente. Um bom exemplo disso é o mercado de fitas K7 e discos, que foi praticamente extinto com o surgimento de CD’s e depois serviços de streaming. Perceba que a mudança neste mercado afetou desde pequenas lojas de disco até os músicos e gravadoras, que na década de 80 tinham na venda de discos uma de suas principais fontes de renda. Vale ressaltar que outros fatores, como a pirataria, também influenciaram essas mudanças, mas ainda assim o avanço da tecnologia está presente como o principal mote para que essas mudanças ocorressem.
Para os bancos, a adaptação de seus modelos de negócio é fundamental. As fintechs aceleram o processo de desenvolvimento de soluções com o foco no cliente e em sua experiência. Em termos de regulação há bastante a fazer por aqui, uma vez que a regulamentação de Fintechs em diversos âmbitos depende de ações políticas, como por exemplo a implementação do cadastro positivo e outras iniciativas que evitem o crescimento descontrolado deste mercado.
A adoção destes novos modelos possibilitam aos bancos um posicionamento inovador em relação ao mercado. E este posicionamento também deve ser fator determinante para outras áreas que se alimentam de serviços financeiros, como por exemplo o setor varejista. Neste sentido, as empresas de tecnologia e software que oferecem plataformas completas, e com soluções que melhoram a experiência de compra do cliente final saem na frente.
A adoção de tecnologias até então impossíveis de serem utilizadas para produtos bancários (como realidade aumentada, biometria facial, chatbot) é cada vez mais comum, e a adoção destas tecnologias dependem necessariamente de plataformas
que possibilitem conectar estas soluções.
Este é o novo mundo: bancos se tornando plataformas abertas para acesso a informações (até então inacessíveis) e empresas dos mais diversos setores oferecendo serviços financeiros através de diversos canais.